Série de fotografias de olhares da Índia.
Um mês imersivo, em uma aventura de moto pelo deserto do Rajastão e os templos de Kerala, traduzidos pelos olhares que encontrei pelo caminho.
16/02/2019 - Jodhpur, Rajastão

Ela me olhou de longe, como se olhasse qualquer turista.
Meus olhos foram para dentro dos dela.
Quanta força em olhos tão doces!
Seus olhos me fizeram caminhar sem rumo, desnorteada e quase perdi o chão.
Esses olhos transformaram meus olhos em lágrimas e escorri emoções nunca sentidas...
Me senti em casa, como nunca me senti antes!
De alguma forma, nem sei porquê, eu vi meus olhos no dela.

Entendi. Estou aqui para olhar!
Assim, comecei a fotografar olhares possíveis por onde eu passava.
16/02/2019 - Jodhpur, Rajastão

Olhar de criança com sabedoria de avó: inocente e maduro ao mesmo tempo.
É olhar de menina, que tem o mundo inteiro a descobrir.
É olhar de ancestral, que tem a firmeza de saber exatamente onde está.
Olhar que te infiltra, desconcerta e vê com a presença que só quem nasceu da terra pode ter.
Olhar que quando se olha, não tem mais fuga: mergulha-se no infinito.
20/02 - Vila próxima a Jaisalmer, Rajastão

Sabe a sensação de casa?
É essa a sensação que os olhos dele me passaram ao me convidar para fazer a massa de chapati juntos.
Em silêncio de palavras, mas com mil conversas de olhares, vivi a contemplação do alimento.
Seus olhos refletiam a fogueira de chão onde cozinhamos a noite.
O fogo iluminava o mar que existia dentro.
Talvez seja por isso a sensação de casa: eram olhos de mar no fogo da noite.

É olho de deserto que já foi água.
19/01 - Jaisalmer, Rajastão.

Seu olhar foi o mais doce.
Por trás dessa foto séria tinha um menino que só sorria com os olhos.
Um olhar de criança sábia dentro de um avô mais sábio ainda.
Moço vaidoso: arrumou o bigode, colocou o turbante... e aprofundou os olhos, para olhar para a foto com os olhos da vida!

Olhos mais sábios nunca conheci.
22/02 - Vila Barnawa, Rajastão

Olhar de menina brincalhona, que carrega a magia da vida por dentro.
Olhar que chama e hipnotiza, a ponto de nos deixar zonza e não querer ver mais nada - só sorrir com tamanha verdade.
Olhar que te olha de verdade.
Olhar que se encanta de verdade.
Olhar que canta com verdade.

Olhos de quem tem coração que sorri, pois sabe curar com os olhos da verdade.
22/02 - Vila Barnawa, Rajastão

Olhos que se confundem com notas musicais ecoadas em um violino.
Um violino com cheiro de chai quentinho, que aquece qualquer outro coração que lhe toque.
22/02 - Vila Barnawa, Rajastão

Olhos de terra seca em dia de chuva.
25/02 - estrada de Pushkar

Olhos de entrega devocional. 
Sinceros como de um estudante com sede de aprender.
Olhos jovens de quem se encontrou em um templo muito antigo.
Olhos de quem acredita.
Olhos que acredito.
27/02 - Pushkar, Rajastão

Olhar esperto de quem precisa sobreviver.
Olhar cansado de quem já viu demais.
Olhar forte de quem a vida exigiu sustento.
Olhar sorriso de quem ainda pode dançar.
Olhos de cigana.
27/02 - Periferia de Pushkar, Rajastão

Um grande olhar de criança que carrega a esperança em meio ao caos.
09/03 - Estrada de Munnar, Kerala

Olhos brilhantes de anis-estrelado sorrindo :)
05/03 - Marari, Kerala - Shivaratri (Festa de Shiva)

Olhos curiosos, que não reconhecem o já reconhecido.
Olhos que buscam entender os motivos dos não-motivos de estar aqui.
Olhos tímidos que desejam boas vindas.

No norte (Rajastão) senti que o mundo não tinha mais jeito e os olhos esperançosos das crianças me obrigavam a acreditar em alguma coisa. 
No sul (Kerala), não precisei ver esperança nos olhos, pois as crianças já eram a esperança por inteiro.
Apenas acreditei que o que é bonito sobrevive.
Meus olhos agradecendo a oportunidade de ver outros olhares.
Olhares da Índia
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